Antes de qualquer mal entendido, deixo claro a todos que aprecio e respeito todas as manifestações culturais expressas em forma de música, desde a clássica até o forró, passando pelo hap e o funck. Tem lugar para todos os gêneros, pois cada um é uma forma de expressar-se sobre a vida.
Também respeito e faço respeitar todas as denominações religiosas. Sou católico e tenho grandes amigos de outras religiões, nos damos muito bem porque nos respeitamos e nos queremos bem. Deus é maior do que todas as religiões, as quais servem para conduzir a Ele, cada uma da sua forma.
Estou começando este artigo com essas duas grandes ressalvas, porque o que estarei expondo aqui poderia criam interpretações erradas e até preconceituosas por parte de quem não me conhece a fundo. Da mesma forma, desautorizo quaisquer usos deste artigo fora de seu contexto exclusivo, que é de relatar fatos cotidianos do Jaguaré, bairro suburbano de São Paulo.
Nosso bairro é um belo exemplo da ampla diversidade cultural e religiosa de que se tanto fala. Povoado em várias etapas, recebeu (e recebe) pessoas das mais variadas origens. E cada um carrega consigo sua forma de ver e de viver, seus valores e vivências culturais. E isso é uma riqueza imensa, que deve ser valorizada e respeitada.
Mas não se deve impor modos de ver e de viver. Unidade não é uniformidade, as diferenças devem ser respeitadas e não somente toleradas. Por que escrevo isso? Porque, neste momento em que escrevo, estou curtindo um belo forró mesmo não querendo. Gosto desse gênero musical, é um gênero tipicamente brasileiro, mas neste momento pós almoço dominical eu gostaria de repousar um pouco. Por que me tiram esse direito?
Há anos atrás, quando eu era sacristão de uma Paróquia próxima a minha casa, o sino era manual e tocávamos para chamar os fieis para as Missas. Um senhor, que se identificava como Evangélico, morador de um edifício residencial próximo, sentia-se muito incomodado, reclamando seus direitos de repouso à Cúria e à Imprensa. Será que ele não se sente incomodado com o mesmo forró que estou "curtindo" agora? Será que ele não se sente incomodado com os carros de propaganda política e com os cultos de seus co-irmãos de fé?
Repito: há espaços para todos, mas deve-se haver respeito entre todos, sem imposição de gostos. Todos têm direito à alegria e expressar sua alegria, mas todos têm direito também justo à privacidade.
Isto me lembra aquela fábula do Macaco Zombador que sempre conto a meus alunos, um macaco alegre que perturbava todos animais da floresta, pondo-lhes apelidos. O macaco não agia por mal, mas por alegria, só que sua alegria perturbava a privacidade dos outros, a ponto dos animais chamarem o Leão, o Rei da Floresta, o qual ponderou: "na floresta somos todos diferentes, cada um é um, como Deus nos criou; essa é a nossa riqueza; porém, se não nos respeitarmos restará somente a guerra e não haverá mais paz!"